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Há mais numa tatuagem do que pensamos | "there is more to tattoos than meets the eye""

Os componentes das tatuagens podem viajar pelo corpo e permanecer nele mesmo após a cicatrização da tatuagem. Este facto já aqui tinha sido abordado, em 2015.

As notícias sobre as tatuagens e o seu efeito no sistema linfático foram sempre surgindo e, no passado mês de setembro 2017, a CBC news voltava a alertar para o número  crescente de pessoas que se tatuam versus aquelas que sabem quais os efeitos das tatuagens no organismo.

Na verdade, o número de pessoas tatuadas aumentou substancialmente nos últimos anos, alguns países revelam ter até 24% da sua população com, pelo menos, uma tatuagem. Os efeitos das tatuagens são comuns. Agora, no passado dia 27 de agosto (3), surge  a publicação de um outro estudo que  aprofunda o de 2017 e acrescenta às tintas os metais provenientes do desgaste das agulhas, durante a tatuagem, que também permanece no nosso organismo.

fonte
O estudo publicado em 12 de setembro de 2017 (2) tinha no seu objectivo central avaliar em que medida uma tatuagem aumenta a proporção de elementos tóxicos no corpo e já apontava com grande segurança para o "depósito" das partículas das tatuagens nos nódulos linfáticos, tanto mais que os nódulos linfáticos  fazem parte do sistema imunológico e filtram substâncias estranhas.

A coautora e cientista do Instituto Federal de Avaliação de Riscos na Alemanha, Ines Schreiver, explica  "como o trabalho de detective os levou às agulhas", neste estudo agora publicado (3)

“Estávamos a monitorizar o estudo anterior, tentando encontrar a ligação entre ferro, cromo e níquel e a coloração das tintas. Depois de estudar várias amostras de tecido humano e encontrar componentes metálicos, percebemos que deveria haver algo mais. Testamos cerca de 50 amostras de tinta sem encontrar estas partículas de metal e tínhamos garantido que não tínhamos contaminado as amostras durante a sua preparação. Foi então que pensamos em testar as agulhas e esse foi o momento do 'eureka' ”.

Já não se trata apenas da limpeza da sala,  da esterilização do equipamento ou mesmo dos pigmentos das várias tintas utilizadas. Agora está também fundamentado, neste estudo, que o desgaste das agulhas que fazem as tatuagens também devem ser considerados (os resíduos metálicos permanecem no organismo). 

O estudo, agora publicado, fornece a primeira evidência de que não apenas os pigmentos de tatuagem, mas também as partículas de agulha desgastadas que se depositam nos gânglios linfáticos. No entanto, investigações adicionais precisam ser realizadas para avaliar claramente o impacto.

Ines Schreiver, coautora deste estudo, refere que
“Os efeitos a longo prazo só podem ser avaliados em estudos epidemiológicos de longo prazo que monitorizem a saúde de milhares de pessoas ao longo de uma década"





fontes:
(1) Tattoo pigments transported to lymph nodes, corpses show
(2) Synchrotron-based ν-XRF mapping and μ-FTIR microscopy enable to look into the fate and effects of tattoo pigments in human skin (Published: 12 September 2017)
(3) Distribution of nickel and chromium containing particles from tattoo needle wear in humans and its possible impact on allergic reactions (Published: 27 August 2019) 
(4) Now Metal Particles From Tattoo Needles Have Been Found in Human Lymph Nodes 
(5) Metal particles abraded from tattooing needles travel inside the body 

resumo feito por:
Manuela

Alimentação Mediterrânica no Linfedema

Maria Palma Mateus,
nutricionista
docente da Escola Superior de Saúde
Universidade do Algarve
A nutrição pode contribuir para prevenção e/ou controlo dos fatores de risco associados ao desenvolvimento de Linfedema, nomeadamente, o controlo do peso corporal e do estado pró-inflamatório e pró-oxidante que parecem estar associados ao linfedema. 

A implementação de hábitos alimentares saudáveis que contribuam para promover a redução do peso, em caso de excesso de peso ou obesidade, ou para a sua manutenção, caso o peso esteja adequado, e que atenuem as situações inflamatórias e pró-oxidantes, pode ter um papel determinante na melhoria da sintomatologia associada a esta patologia. Nesse sentido, a intervenção nutricional mais adequada a esta situação clínica, será a adoção de uma dieta anti-inflamatória, rica em nutrientes com potencial anti-inflamatório e antioxidante e reduzida em alimentos pró-inflamatórios e promotores de stress oxidativo.

Um dos padrões alimentares mais estudados e que nos é muito próximo é a alimentação mediterrânica, associada à Dieta Mediterrânica (estilo de vida dos países que circundam o Mediterrâneo ou que por ele são influenciados, como é o caso de Portugal). É reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um “forma de comer” saudável e sustentável, considerada como um importante fator preventivo de desenvolvimento de várias doenças e protetor da saúde humana.

Para este reconhecimento, contribuem em muito, as suas características nutricionais e propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes.
A alimentação mediterrânica tem por base o consumo diversificado de produtos vegetais frescos, de produção local e da época. Promove o azeite como gordura principal e os preparados culinários simples como a sopa e a “comida de panela”, onde todos os ingredientes se reúnem em cru, ou se juntam a um refogado leve. 

As leguminosas como o feijão, o grão ou a ervilha estão presentes com regularidade bem como o pão de qualidade. Acompanha-se com água em todos os momentos e vinho, ocasionalmente, e de forma moderada, às refeições principais. 

Como praticar uma alimentação mediterrânica:

  • Faça no mínimo três refeições principais – pequeno-almoço, almoço e jantar, intercaladas com pequenos lanches, de modo a não estar mais de 3,5 horas sem comer. Fazer pequenas refeições a horas certas, várias vezes ao dia, ajuda a controlar a quantidade de alimentos que se consome a cada refeição.
  • Dê preferência a cereais pouco refinados como pão de mistura ou integral, arroz integral ou vaporizado, massas de trigo duro e couscous. Estes alimentos são excelentes fontes alimentares de amido (principal fonte de energia do organismo), fibra, vitaminas do complexo B e minerais (magnésio, fósforo, cálcio, ferro,…).
  • Consuma produtos hortícolas em abundância, de diferentes cores e texturas, ao almoço e ao jantar, na sopa e no prato, para garantir o aporte diário de fibra, de vitaminas, de minerais e de substâncias antioxidantes.
  • Consuma diariamente uma a duas peças de fruta. Faça da fruta a sua sobremesa preferida. Os produtos hortícolas e fruta são muito ricos em substâncias protetoras com elevado potencial.
  • Beba bastante água durante todo o dia. Em alternativa, beba infusões de ervas (tília, cidreira, camomila, lúcia-lima,…) ou chá sem açúcar. Outras bebidas não açucaradas e sopas com pouco sal e gordura constituem também excelentes formas de hidratação.
  • Dê preferência ao azeite para cozinhar e temperar os alimentos. Apesar de ser uma excelente gordura consuma com moderação dado o seu elevado valor calórico.
  • Evite o consumo de sal em excesso. Substitua o sal por ervas aromáticas (salsa, coentro, louro, tomilho, manjericão, orégãos,…), quantidades moderadas de especiarias (cravinho, noz-moscada, cominhos,…), cebola e alho. Não use sal de mesa e evite aperitivos salgados.
  • Inclua pequenas quantidades de azeitonas, nozes e amêndoas, figos secos, tremoço e sementes na sua alimentação diária. (Prefira estes alimentos com a menor quantidade possível de sal.) Ricos em gorduras insaturadas, proteína de origem vegetal, vitaminas, minerais e fibras. Em pequenas quantidades, podem constituir um lanche, em alternativa, a produtos alimentares ricos em gorduras saturadas e açúcar como os croissants, bolos e bolachas, entre outros.
  • Modere o consumo de vinho e/ou cerveja e faça-o apenas às refeições principais (1 copo pequeno, por dia, para as mulheres e 2 copos pequenos, por dia, para os homens). Evite o consumo de bebidas destiladas como aguardentes, licores e whisky.

  • Inclua nas refeições principais:
  • Pescado, duas ou mais vezes, por semana; carne de aves e coelho, duas vezes por semana; e ovos (dois a quatro, por semana) - inclui os ovos utilizados em preparações culinárias). Estes alimentos fornecem proteína de excelente qualidade com um baixo teor de gorduras saturadas. O pescado é ainda rico em ácidos gordos polinsaturados ómega 3, com propriedades anti-inflamatórias.
  • Leguminosas secas e frescas (feijão, grão-de-bico, lentilhas, chícharo, fava, ervilha), mais de duas vezes, por semana. Combine as leguminosas com cereais (arroz, massa, couscous,…) ou com batata/batata-doce, e obtenha uma excelente fonte de proteína vegetal com baixo teor em gordura.
  • Carnes vermelhas, reduza o seu consumo para uma a duas vezes por semana e carnes processadas (fiambre, enchidos, presunto e outros produtos de charcutaria) menos de uma vez por semana, e em pequenas quantidades. Estes alimentos apresentam um teor elevado em gorduras saturadas.


  • Pratique uma culinária rica em sabores e aromas e pobre em gorduras.
Prefira as sopas ricas em produtos hortícolas e leguminosas, os ensopados, os estufados, as caldeiradas e os assados com pouca gordura. Evite os refogados e os fritos. Poupe no sal e abuse na simplicidade e na variedade das suas refeições. Use a sua imaginação!

Redescubra as nossas tradições alimentares e pratique um estilo de vida saudável, faça refeições em família, conviva com os seus amigos à volta da mesa e seja ativo.


Nutricionista, 
docente no Curso de Dietética e Nutrição da Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve

Novas descobertas lançam luz sobre o sistema linfático

Este é o título da noticia que saiu  hoje no Medical Press  que refere que cientistas Oklahoma Medical Research Foundation (OMRF) abriram novos caminhos para compreendermos como o sistema linfático funciona o que potencialmente poderá abrir portas para futuras terapias.

Sathish Srinivasan, Ph.D., e Boksik Cha, Ph.D., aa OMRF, tinham  descoberto anteriormente  uma via particular que regula o desenvolvimento do sistema linfático humano, conhecida como a via de sinalização Wnt. Agora, numa nova pesquisa, publicada na revista Cell Reports,  identificaram moléculas de sinalização que ativam esta via, segundo afirmou Sathish Srinivasan, Ph.D..

Toda a noticia aqui

Fta Inês Lourisela fala de Lipedema


aqui referimos que o mês de junho está a ser o mês escolhido para chamar a atenção para uma patologia ainda muito pouco conhecida e que tem a sua incidência sobre a população do sexo feminino: o Lipedema.

Assim, porque junho é o mês do Lipedema, é com muito agrado que partilhamos convosco o video que está disponível no FB, onde, em português, a Fisioterapeuta Inês Lourisela carateriza, em breves palavras, o que é Lipedema.

publicado aqui

Possibilidade de medicamento para o linfedema

A noticia está no Stanford Medicine News Center e revela que um estudo liderado por cientistas da Universidade de Standford encontrou o mecanismo molecular responsável que desencadeia o linfedema e o um medicamento que inibe esse processo.

Este estudo foi agora, a 10 de maio, publicado pelo Science Translational Medicine.

O médico da área vascular, Stanley G Rockson,  e a investigadora linfática, Tina Neil, referem que o processo que se julgava até agora irreversível é reversível.  Fazem ainda parte desta equipa, entre outros, o pneumologista  Mark Nicolls.

Segundo a opinião desta equipa, a linfa que se acumula não é apenas um problema da incapacidade do sistema linfático, como se julgava até aqui, mas sim um processo de inflamação que se revela dentro do tecido da pele.

Assim, está a ser testado desde maio 2016 um novo medicamento, conhecido como ULTRA, para o linfedema secundário mas também não está fora o linfedema primário.

A indústria farmacêutica já está a financiar estes estudos que começaram há quatro anos com dois objectivos diferentes: o do estudo da hipertensão pulmonar e o linfedema. O encontro destas duas equipas aconteceu no programa SPARK, da Stanford e o Bioquimico  Kevin Grimes apercebeu-se da matéria de estudos destas equipas distintas estabelecendo de imediato uma ponte.

"Ocorreu-me que ambas as doenças afectam os tecidos vasculares e têm fortes componentes inflamatórios" - disse Kevin Grimes

Já havia uma suspeita que o linfedema é uma doença inflamatória  mas os medicamentos e os seus efeitos colaterais foram uma preocupação. A conjugação das pesquisas destas duas equipas distintas vai agora complementando o estudo e abrindo respostas mais seguras.

Todo o artigo pode ser lido aqui

Manuela

Tratamento da elefantíase no HPV (CHLN) – apresentação de um caso

Filipe Pereira
Fisioterapeuta
A elefantíase como uma exacerbação não controlada de linfedema dos membros inferiores é muitas vezes ignorada e não encaminhada para tratamentos de reabilitação. Pode-se supor que este facto deve-se à condição crónica da doença e/ou ao desconhecimento sobre os resultados desta intervenção.

Porém, a intervenção da equipa de reabilitação nesta condição assenta na promoção da qualidade de vida através da redução e estabilização do edema, no ensino dos cuidados e estratégias, na orientação e na mudança de comportamentos. Infelizmente continua a ser comum recebermos doentes com anos de evolução da doença sem nunca terem feito qualquer tipo de tratamento.

No caso da elefantíase, esta condição pode assumir as proporções pela qual é conhecida pelo facto de não ser devidamente acompanhada. O diagnóstico e tratamento precoce são primordiais.

Encaminhada pelo Projecto “Sai da Concha” para a Consulta Externa de Fisiatria do Hospital Pulido Valente (CHLN), o caso que apresento trata-se de uma doente de 66 anos com linfedema primário bilateral dos membros inferiores desde os 20 anos, que evoluiu para elefantiase. Ao longo destes anos percorreu diversas especialidades medicas, fez tratamentos de fisioterapia e intervenção cirúrgica de redução do linfedema com resultados transitórios. Devido ao facto de não ter qualquer tipo de contenção, o linfedema continuou a aumentar de volume e a cirurgia deixou aderências e fibroses que aumentaram significativamente a organização (dureza) do linfedema. Além da dureza extrema, apresenta pele ruborizada. Com o peso dos seus membros inferiores progressivamente a aumentar desenvolveu artroses a nível dos joelhos e deformação a nível da articulação tíbio-társica direita, que afectaram a sua mobilidade. Actualmente com limitação funcional importante, desloca-se através do apoio de canadianas.

Com o iniciar dos tratamentos, foi também acompanhada pela equipa de enfermagem devido a ter desenvolvido uma ferida, como consequência da deformação do membro inferior direito pelo peso do membro, resultando em fricção constante da pele da zona maleolar interna no chão.

Foram prescritas 12 sessões de fisioterapia, as quais tentou-se que fossem diárias. O tratamento consistiu na Terapia Linfática Descongestiva (drenagem linfática manual, pressões sequenciais intermitentes e aplicação de bandas multicamadas), no estímulo para a mudança de comportamentos e na educação da doente e família para a importância dos cuidados a manter após os tratamentos. A aplicação das bandas multicamadas foi feita até ao nível dos joelhos devido à intolerância por parte da doente na aplicação até à raíz dos membros. Neste caso, o ensino à família deste método de redução/contenção foi essencial pois continuou a ser realizado diariamente.

Objectivamente, no final do tratamento observou-se uma redução na avaliação da perimetria. A nível da organização o edema ficou mole, tendo sido possível observar uma redução do volume acentuada na zona de maior edema e onde a bandagem multicamadas foi aplicada.




Registo iconográfico:



Como a foto abaixo mostra, os melhores resultados apresentaram-se sempre após o retirar da bandagem, com uma redução muito significativa de volume. Como esperado, nas horas seguintes os resultados regrediam progressivamente devido a não ter contenção. Com a continuidade deste procedimento é esperado que a pele e os tecidos subjacentes gradualmente retomem alguma da sua elasticidade prévia.



Estes resultados serão transitórios se não continuar a existir a contenção e
cuidados diários. Como foi dito, foi ensinada à família a aplicação da bandagem multicamadas, a qual continua a produzir resultados bastante satisfatórios, objectivamente e subjectivamente (como mostra a fotografia ao lado, gentilmente enviada pela doente no seu domicilio). A doente também continua a fazer o penso no seu centro de saúde e foram-lhe prescritas as suas primeiras meias de contenção à medida.

O processo de aquisição destas meias contou com a ajuda de técnicos ligados a esta área pois o excesso de pele provocado pela redução do linfedema com a acção da gravidade impedia a manufacturação destas. Para a medição, a doente foi com a bandagem realizada no domicílio e foram usadas técnicas de suspensão da pele que simularam a elasticidade e posicionamento normal dos tecidos, que aliado ao facto do linfedema se encontrar bastante mole, permitiram assim a sua produção.

Em suma, penso que a intervenção de toda uma equipa multidisciplinar teve um impacto positivo na vida desta doente, que ficou bastante satisfeita com os resultados obtidos e motivada para continuar a sua luta diária contra o linfedema.


texto de:
Filipe Pereira,
Fisioterapeuta

Hospital de Gaia foi notícia

Já  aqui tinhamos falado de cirurgia linfática. Mas, foi agora noticiado, através da Agência Lusa, a cirurgia que decorreu no Hospital de Gaia. 

Uma paciente de linfedema no membro superior, após cancro de mama, foi submetida a um transplante ganglionar e é o Dr Gustavo Coelho, Cirurgião Plástico no Hospital de Gaia, que, nas noticias, faz o enquadramento desta cirurgia.


                                                                                                                                                  fonte

Alguns dos locais onde se pode ler esta noticia:

Público
Diário de Noticias








RTP


Exercício Fisico para sobreviventes de Cancro de Mama - Nordic Walking


















No passado dia 28 de outubro foi publicado, no Journal of Physical Therapy Science, um estudo que teve como objectivo verificar os efeitos do Nordic Walking|Caminhada Nórdica e Caminhada, nos sobreviventes de cancro de mana, tendo para isso sido controlada a perimetria e a retenção de linfa.

Este trabalho contou com técnicos do Departamento de Medicina e Ciência do Envelhicimento e do Departamento de Ciências Médicas, Orais e Biotecnológicas, da Universidade de Chieti-Pescara, do Sportlab (um laboratório de medicina Desportiva), do Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Cagliari  e com Cristina Gonzalez Castro, que já aqui tinha sido referida,   quando partlhei convosco o artigo sobre Nordic Walking” no tratamento do linfedema primário e secundário.

Na conclusão, a que estes técnicos chegaram, pode-se ler que o Nordic Walking, só por si ou combinado com outras técnicas, deve ser prescrito não só para prevenir o linfedema dos membros superiores como forma de tratamento.

O artigo, publicado Journal of Physical Therapy Science, pode ser lido na sua totalidade aqui.


12 nov 2016 | Susana Duarte e Carla Carvalho, convidam-nos

 "UM DIA PELO LINFEDEMA" - no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão

Susana Duarte e Carla Carvalho, Fisioterapeutas














Somos duas fisioterapeutas e a nossa profissão ensina-nos a dar qualidade de vida a quem procura os nossos cuidados. Nos tempos que correm, dar qualidade de vida é também educar e informar. 

Talvez por desconhecimento, sentimos que o linfedema é uma condição de saúde pouco divulgada, embora o seu impacto físico, psicológico e emocional seja digno de atenção por parte de todos nós. A nossa sede de formação levou-nos em Janeiro ao evento “Linfedema e Lipedema – das necessidades do doente às novidades terapêuticas”, organizado pela ANDLinfa. Daí à vontade de continuar este trabalho, foram dois minutos (se tanto!). 

Ambas temos formação específica no tratamento do linfedema e um grande prazer em trabalhar nesta área, então porque não fazê-la chegar a mais pessoas? 
Nove meses depois, aqui estamos! 

Esperamos proporcionar um excelente dia a todos os participantes através de diversos momentos de partilha e de informação

O Convite aqui fica para o dia 12 de novembro, a partir das 9:00h no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (brevemente o programa final).

Caso queira dar-nos o privilégio de juntar-se à inicitiva inscreva-se enviando um email para:
  gic-cmra@scml.pt 

A inscrição deverá conter as seguintes informações:
Assunto do Email: Inscrição na Conferência Um dia pelo Linfedema
Nome Completo
Situação Profissional (Ex.: utente, profissional de saúde, estudante ou outro)

programa  aqui


Tratamento do Linfedema - Alternativas Terapêuticas


Sara Rosado|Fisioterapeuta
Contextualização

Linfedema é a acumulação de fluido intersticial como resultado de uma drenagem linfática insuficiente (Brennan, 1992), como acontece no membro superior após os tratamentos para o cancro da mama. Isso acontece como resultado de uma destruição parcial ou total do sistema linfático com a cirurgia e a radioterapia. 

A incidência do linfedema varia entre 6% a 54% (Clark, 2005; Kwan, 2010; Norman, 2010; Park. 2008).

A variação da incidência é tão grande devido à falta de critérios para classificação do linfedema nos diferentes autores. 

Esta é uma condição extremamente debilitante com consequências a vários níveis (Engel, 2003; Paskett, 2007; Vassard, 2010).

Relativamente a factores de risco, a literatura não é muito consistente.

O fator mais associado é a extensão da cirurgia, ou seja, se houve esvaziamento ganglionar axilar e o número de gânglios que foram removidos. (DiSipio, 2013; Hayes, 2008; Meeske, 2008; Norman, 2010; Ridner, 2011). A radioterapia também está associada a aumento do risco de desenvolvimento de linfedema em alguns estudos (Kwan, 2010; Park, 2008).

Existem também algumas características clínicas apontadas como factores de risco, tais como, o Índice de Massa Corporal e o excesso de peso, que parece ser bastante consistente na literatura (DiSipio, 2013, Goldberg, 2010; Helyer, 2010; Ridner, 2011; Norman, 2010; Meeske, 2008).
Outros fatores de risco clínicos incluem gânglios linfáticos positivos e doença avançada (Kwan, 2010; Meeske, 2008; Park, 2008; Yen, 2009).

Terapias Conservativas para tratamento do Linfedema

Algumas terapias conservativas têm sido abordadas para o tratamento do linfedema, entre elas, o exercício físico. 

Debatido como ambos, fator de risco e redutor de risco (Ewertz, 2011). Por um lado, ele aumenta o fluxo sanguíneo e a pressão sanguínea no membro superior e, consequentemente, aumenta a produção de linfa. Por outro lado, a ativação muscular, estimula o fluxo linfático (muitas vezes referido como “pump”), aumentando a drenagem linfática. 

Exercícios com o objetivo específico de estimular o fluxo linfático das extremidades para o tórax podem reduzir o risco de desenvolver linfedema. Exercícios que aumentem a amplitude articular e a força do membro superior podem também aumentar o uso do membro superior nas atividades diárias e assim aumentar a drenagem linfática através da ativação muscular (Box, 2002).

A educação do paciente é também uma terapia conservativa muito importante e pressupõe que estes entendam as alterações de regulação do fluido linfático que afetam o membro superior e a influência dos fatores externos na regulação do mesmo, incluindo conselhos relativamente ao estilo de vida, como a manutenção dos níveis de atividade física e um índice de massa corporal dentro do que é saudável, informação para a autodetecção precoce de linfedema e retirada de medidas em caso de aumento de volume do membro superior (Box, 2002; Park, 2008). 

Na minha experiência profissional tenho verificado que os utentes são bombardeados com informações relativas a perigos, a tudo aquilo que não “podem” fazer. A lista costuma ser tão grande e tão “rudimentar” (peço desculpa pelo termo) que acabam por não fazer rigorosamente nada com aquele membro, o que aumenta o risco e agrava a situação em quem já desenvolveu linfedema secundário. Portanto, na minha análise, educação SIM, privação NÃO.
A monitorização e intervenção precoce é outra estratégia conservativa bastante importante que assenta na avaliação objetiva e follow-ups, favorecendo a deteção precoce, adequação de estratégias interventivas e redução da morbilidade (Stout, 2008).

Outra terapia conservativa bastante utilizadas na prática é a terapia compressiva. Consiste em utilizar material compressivo de diferentes classes, utilizando também a pressoterapia. O principio para a compressão é baseado na resistência ao edema, bem como para a melhoria do chamado “pump muscular”.
Por outro lado, e também bastante utilizada na prática clínica temos a Drenagem Linfática Manual (DLM). É uma técnica de massagem que envolve uma compressão leve na pele para estimular o fluxo linfático e estimulação manual dos gânglios linfáticos para aumentar a sua atividade. A evidência sugere que esta técnica é efetiva na redução do volume do membro superior em pessoas com linfedema, sendo habitualmente combinada com outras modalidades de tratamento com vista a otimizar o efeito (Devoogt, 2010; Preston, 2008; Torres, 2010). Alguns autores defendem o recurso à drenagem linfática manual para prevenir o linfedema por ativação das vias de substituição (Torres, 2010).

Discussão dos Resultados 

O linfedema secundário é muito frequente após os tratamentos para o cancro da mama. A falta de suporte e de acompanhamento após os tratamentos tem sido testemunhada por muitas pacientes minhas, tanto em contexto clínico como em palestras em que sou oradora. Acontece que, a evolução da medicina, da tecnologia, da ciência, tem aumentado a sobrevivência ao cancro. 

A minha questão é: O que é que estamos a fazer com essa sobrevivência? Um paciente que passou por uma experiência de cancro é um doente crónico, não basta “eliminar o bicho mau”, isso não é suficiente.

Relativamente ao linfedema, a “educação do paciente” é realmente aplicada na prática, mas é importante perceber de que forma está a ser aplicada. Por norma, da minha experiência, são dadas uma série de normas restritivas às atividades da vida diária que, a longo prazo, causam um enorme impacto a nível físico e também a nível emocional e psicossocial. Na maioria das vezes nem são abordadas as terapias para redução e controlo do linfedema que estão disponíveis, caso a situação ocorra. 

Ainda não se consegue perceber porque é que existem pessoas que, nas mesmas circunstâncias, desenvolvem linfedema e outras não desenvolvem. Então a solução será restringir a atividade do membro superior e com isso ter outra dose de consequências e ainda assim não garantir que o linfedema ocorra? Isto parece-me um tipo de educação do género: “Eu não sei o que pode fazer por isso o seguro é dizer para não fazer nada”, sem querer ferir suscetibilidades. Os resultados desta revisão sistemática indicam-nos que a intervenção para tratamento e prevenção do linfedema deve conter diferentes terapias e que as terapias combinadas têm melhores resultados que apenas a educação do paciente, na maioria dos outcomes. No meio de todos os números, há um parâmetro que, na minha opinião, deve ser destacado: a monitorização. Educar precocemente com os meios adequados e dando a informação baseada na evidência, diagnosticar precocemente e intervir precocemente, para isto é preciso monitorizar, ou seja, controlar, supervisionar. Resumindo, é preciso estar presente. De todos os resultados, quero salientar também a consistência na evidência no que toca à segurança na realização de exercícios de resistência de forma progressiva e devidamente acompanhados, sugerindo que pode até reduzir o risco de linfedema (Sagen, 2009; Schmitz, 2010). A mobilização precoce do ombro também é extremamente importante para acelerar a recuperação funcional do membro superior nos primeiros seis meses (Bendz, 2002; Cinar, 2008; Todd, 2008). 

A drenagem linfática manual em combinação com outras terapias (compressiva e exercício) apresenta resultados significativos na prevenção e controlo do linfedema (Castro-Sanchez, 2011; Torres, 2010), sendo que, é difícil avaliar o seu impacto de forma isolada porque os resultados são muito influenciados pela dosagem, tipo e forma de administração. A dificuldade em definir “linfedema” de forma objetiva e o facto de diferentes estudos utilizarem diferentes conceitos também dificulta a interpretação dos resultados. Quando se analisam resultados de forma crítica devemos sempre ter em conta a qualidade metodológica dos mesmos, mas é importante perceber que extrair resultados utilizando diferentes estudos nem sempre é fácil e é necessário que nos foquemos no que é mais significativo, tendo sempre em consideração que pode não ser “estatisticamente significativo”, mas que na prática, com uma determinada pessoa, aquele resultado pode ser de extrema importância. 

É importante repensar estratégias interventivas no cancro da mama, é importante o acompanhamento multidisciplinar, o acompanhamento contínuo que não se foque apenas na sobrevivência e em controlar recorrências, mas que se foque também no impacto dos efeitos secundários dos tratamentos a todos os níveis.
Ás vezes não chega eliminar a causa, é preciso perceber exatamente o que ela causou.


Texto: 
Sara Rosado 
Fisioterapeuta

Baseado na revisão sistemática:
Stuiver MM, tem Tusscher MR, Agasi- Idenburg CS, Lucas C, Aaronson NK, Bossuyt PMM. Conservative interventions for preventing clinically detectable upper-limb lymphoedema in patients who are at risk of developing lymphoedema in patients who are at risk of developing lymphoedema after breast cancer therapy. Cochrane Database of systematic Reviews 2015, Issue 2. Art. No.: CD009765. DOI: 10 .1002/ 14651858. CD009765. Pub2

Versão completa:

Reabilitação de Linfedemas

Sandra Miguel
Médica

Consultora de Fisiatria
“Há muitos anos que não calço botas… e fiquei muito contente por voltar a calçá-las depois do tratamento!” (citação de doente de 42 anos)

Deixei de sair com os meus amigos, porque tinha vergonha da minha perna e de ter de andar sempre de calças de fato de treino” (citação de doente de 24 anos);

“Não visto calças de ganga já há muitos anos… e voltei a vesti-las recentemente depois da fisioterapia” (citação de doente de 24 anos)

“Uma vez, no aeroporto, ao olharem para a minha perna, obrigaram-me a despir as calças para comprovarem que não levava nenhum objecto dentro das mesmas” (citação de doente de 47 anos)

“Desde que tenho linfedema deixei as danças de salão e não tinha esperança de voltar a dançar…, mas consegui voltar a dançar depois da reabilitação …” (citação de doente de 60 anos).

Estas são algumas das frases ouvidas na minha consulta de reabilitação de
linfedemas e que me permitem dizer ao doente: “a sua doença, apesar de à luz do conhecimento actual, não ter cura, tem tratamento”.

Os linfedemas são uma das patologias em que a intervenção multidisciplinar (cirurgião vascular, médico fisiatra, fisioterapeuta, enfermeiro, nutricionista, psicólogo, assistente social) e diferenciada específica é essencial para que o doente possa voltar a ter uma vida com qualidade. Nesta equipa, todos são chamados a participar com o seu saber específico e a participar em áreas comuns, como a educação para a saúde e a autonomização dos doentes.

O objectivo do tratamento de reabilitação é a redução do edema e a manutenção da integridade das estruturas de suporte. A equipa de reabilitação trabalha com o doente e com a sua família no sentido de se estabelecerem objectivos realistas. Estes objectivos são estabelecidos a curto e a longo prazo e são reavaliados periodicamente. Tratando-se de uma doença crónica, deve ser sempre transmitida uma esperança realista ao doente e à sua família.
A abordagem terapêutica mais efectiva e amplamente aceite é uma terapia combinada, que compreende:

  1. A educação do doente e família no que respeita aos cuidados com a pele e faneras (unhas), para minimizar o risco de complicações infeciosas e de agravamento do linfedema:
    - Higienização regular e adequada da zona afectada, pelo menos duas vezes ao dia;
    - Hidratação regular da pele, também duas vezes ao dia;
    - Evitar  feridas  e  picadas (de agulhas ou insectos) no membro afectado, nomeadamente injecções e tirar sangue; devem usar-se luvas na cozinha e na jardinagem;
    -  Evitar pressões excessivas no membro afectado – roupas apertadas, calçado apertado, medir a tensão arterial;
    - Evitar a exposição solar directa – o calor contribui para a exacerbação do edema; pode ir à praia nos horários recomendados (antes das 10h e depois das 17.30h);
    - Tratamento de lesões fúngicas das unhas e pele – o doente deve ser orientado para Consulta de Dermatologia, porque quanto maior o tempo de evolução das mesmas, maior será a dificuldade em tratá-las. Estas lesões representam portas de entrada para infecções;
    - Estar atento ao aparecimento de processos inflamatórios locais (dor, calor, rubor, aumento do edema) e entrar rapidamente em contacto com o médico assistente para orientação célere;
    - Não interromper terapêuticas profilácticas (penicilina mensal) sem ordem médica expressa.
  2. Orientação para consulta de nutrição onde lhes será prescrita uma dieta adequada em proteínas e nos indivíduos com excesso de peso ou obesidade, estimulá-los a mudarem hábitos alimentares com vista à perda de peso;
  3. Orientação para consulta de psicologia, em casos selecionados em que se percepciona ansiedade, depressão, isolamento social;
  4. Estimular o indivíduo para a prática regular de exercício físico, de baixo impacto e adequado à tolerância do doente (exercícios de treino aeróbio, nomeadamente caminhadas, passadeira…); apesar de ser muitas vezes desvalorizado, é um componente importante do tratamento na medida em que contribui para a reabsorção das proteínas e promove o fluxo linfático, além de melhorar a condição cardio-vascular, respiratória e psicológica;
  5. Drenagem linfática terapêutica: idealmente, as sessões efectuadas por fisioterapeuta com formação específica, serão diárias, com os objectivos de redução da perimetria (mede-se com regularidade o perímetro do membro, em localizações específicas para comparação posterior e efectua-se registo fotográfico). Trata-se de uma modalidade de massagem especializada que compreende movimentos lentos e rítmicos e que respeita a fisiologia da circulação linfática. Actua mediante a estimulação da remoção de líquido linfático pelos vasos linfáticos superficiais ao estimular a contractilidade intrínseca destes vasos. Em regra, uma massagem tecnicamente correcta, produz resultados em 8-12 sessões. Esta técnica revela-se muito eficaz na chamada fase de tratamento (fase durante a qual se reduz o edema até se atingir uma perimetria que se mantém estável).
  6. Pressões sequenciais intermitentes (ou pressoterapia, popularmente designadas “botas ou mangas”): consiste num sistema de ar comprimido, que utiliza pressões variáveis, com várias câmaras pneumáticas dispostas ao longo do membro e que são activadas sequencialmente contribuindo para a redução do componente líquido do edema. As pressões recomendadas são baixas (20-30mmHg) respeitando a fisiologia da circulação linfática e efectuam-se durante cerca de 30 minutos. Há doentes, na fase de manutenção (fase em que já se atingiu a estabilização do edema), aos quais aconselhamos a aquisição do aparelho de pressões para poderem efectuar o tratamento no domicílio, com regularidade e conforto. Reforço a importância do doente se aconselhar com o médico fisiatra e com o fisioterapeuta relativamente ao aparelho mais adequado porque existem muitos no mercado que não produzem os resultados desejados, devido às suas especificações técnicas.
  7. Bandas multicamadas: consiste na aplicação de ligaduras de baixa elasticidade, em camadas sobrepostas sobre uma interface de protecção da pele. São aplicadas pelo fisioterapeuta após a realização da pressoterapia e da massagem de drenagem e o doente vai para o domicílio com as bandas. Contribui significativamente para a redução da perimetria, pelo que são usadas na fase de tratamento, mas também na fase de manutenção. Em casos selecionados, o doente e família podem adquirir o kit de bandas nas casas ortopédicas e aprender com o fisioterapeuta a aplicar as mesmas e os cuidados a observar durante o seu uso. A  aprendizagem da auto-bandagem tem-se revelado muito importante, na manutenção de bons resultados, nos nossos doentes e na autonomia do doente em gerir a sua doença crónica, nomeadamente nos doentes que residem longe do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação;
  8. Material de contenção elástico (meias / mangas): devem ser prescritas e adquiridos após a estabilização da perimetria e idealmente confecionadas em malha plana. Este tipo de material é caro, mas fundamental para a manutenção de resultados. Para os doentes que não tenham recursos para a sua aquisição, o médico fisiatra pode prescrever este tipo de produto através da “plataforma de ajudas técnicas” disponível nos hospitais e também disponível nos centros de emprego, o doente recebe o produto sem encargos. Infelizmente, verificamos nos últimos anos um enorme desfasamento entre a data da prescrição destes produtos e a data da recepção dos mesmos pelos doentes. Também temos casos de doentes sem recursos económicos, em que a aquisição do material de contenção foi efectuado através da Liga dos Amigos do Hospital. 
Do que foi exposto, reforço que para o tratamento dos doentes com linfedema, não basta efectuar fisioterapia e deixar nas mãos dos técnicos, a saúde de cada um: é preciso mudar comportamentos! Se o doente mantém uma dieta inadequada, uma vida sedentária, reduzidos cuidados higiénicos, não usa o material de contenção prescrito, o contributo da fisioterapia, per si, é transitório.

O início do tratamento do linfedema e a orientação para reabilitação deve fazer-se precocemente. Quanto mais cedo o doente for avaliado pela equipa de reabilitação maiores são as probabilidades de se conseguir reduzir e estabilizar o linfedema e de se evitar as suas complicações. Os doentes orientados para reabilitação de linfedemas, não só melhoram a sua saúde física, como também a psicológica. Os problemas de ansiedade e de depressão surgem frequentemente no contexto de doenças crónicas, particularmente quando os doentes não têm as ferramentas que lhes permitam sentir que controlam a situação. Quanto mais esclarecido for o doente relativamente à sua doença maior será a probabilidade de se atingirem resultados favoráveis. A reabilitação de linfedemas, promovendo a educação terapêutica do doente e dos seus familiares mais próximos, minimiza o impacto físico e psicológico da doença crónica.

Sandra Miguel
Médica
Consultora de  Fisiatria

Tratamento do Linfedema também no Centro de Saúde de Beja


Sou Fisioterapeuta no Centro de Saúde de Beja e trabalho no apoio ás senhoras portadoras de edema linfático secundário a mastectomia desde 1996 quando fiz, juntamente com as colegas do IPO, o 1º Curso de Drenagem Linfática Manual que o Prof Leduc veio dar em Lisboa. Na altura eu já estava em Beja e já  apoiava estas utentes da região Alentejo enviadas pelo colegas do IPO ou pelo Prof Mário Bernardo com o principal objectivo de restabelecer as amplitudes articulares e corrigir atitudes viciosas,
aliviar na dor e fazer o ensino de atitudes do dia a dia a adoptar para  evitar o aparecimento  do linfedema.  O curso foi uma mais valia no sentido de tornar mais eficaz a diminuição e controlo do linfedema. No inicio fiz este trabalho no Centro  Fisioterapia São João Baptista onde já trabalhava em regime pós laboral e só mais tarde iniciei este trabalho também a nível do Centro de Saúde. São já alguns anos de experiência no apoio a estas utentes com resultados muito positivos que se reflectem não só  no carinho que me dispensam como na confiança que demonstram quando me procuram constante e periodicamente ou porque houve um agravamento, porque  precisam de uma nova manga, ou simplesmente porque querem ser reavaliadas e repetir o tratamento, porque efectivamente assim deve ser feito.

Há contudo uma questão que muito me preocupa e que talvez agora a Associação Nacional dos Doentes Linfáticos possa dar uma ajuda no sentido de encontrar uma solução para que o apoio a estas senhoras continue da melhor maneira. É que estas utentes são isentas de taxas moderadoras durante 5 anos. Mas terminado este prazo e após  nova ida à Junta de Incapacidade é-lhes retirada a isenção. Lamento muito porque
o linfedema é uma sequela com a qual têm de viver para sempre e que não podem descurar para que ele se mantenha controlado. O tratamento é demorado, complexo e caro!! Mesmo no Centro de Saúde!!!...

E para algumas senhoras não é possível suportar mais esta despesa...

texto e fotos de:
Laura Xavier
Fisioterapeuta no Centro de Saúde de Beja

Feridas e Linfedema

De tempos a tempos temos feridas nas nossas pernas com linfedema.

Uma ferida é definida como qualquer lesão física envolvendo a quebra cutânea. Para os não portadores de linfedema as feridas são geralmente causadas por qualquer ação acidental mais do que por uma doença.

Nos portadores de linfedema contudo, as feridas são frequentemente consequência da sua patologia. Estas feridas podem ser bolhas que drenam, ulceras ou zonas onde simplesmente a pele abre.


Os fluidos que saiem pela pele irão muito rapidamente danificar a pele circundante e a ferida tornar-se-á num problema sério. Feridas não tratadas podem resultar em infeções e aumentar a severidade do linfedema, podendo causar sépsis, gangrena, amputação e morte.
Quando isto acontece devemos cuidar da ferida imediatamente. Estas precisam ser tratadas de modo diferente das feridas acidentais.

O tratamento de feridas nos pacientes com linfedema  é mais difícil e representa um maior desafio do que em pessoas sem linfedema.

Alguns problemas que podem surgir são:
Linforreia – saída de fluidos da ferida, liquido muito caustico e destrutivo . Causa destruição da pele e é um importante impedimento á cicatrização.
Infeção – é sempre uma ameaça aos pacientes com linfedema. Bactérias invasivas podem levar a infeções graves, celulite, linfanjite, eriserpelas e até sépsis ou gangrena.
Fibrose- tecido fibrótico simplesmente não cicatriza como o tecido normal.
Défice vascular – Nos estadios mais graves do linfedema, o fluxo sanguíneo pode estar comprometido impedindo que os nutrientes e o oxigénio necessários cheguem á ferida
Linforreia e fibrose

após compressão
Não querendo entrar em pormenores de fisiopatologia exagerados parece-me contudo muito importante salientar o mecanismo de criação e manutenção do edema linfático. 
A albumina é a proteína que circula no sistema vascular. Uma das funções da albumina é manter o fluido dentro do espaço vascular, isto é determinado pela quantidade de albumina no sangue. Quando o valor é muito baixo não temos proteínas suficientes em circulação no sistema vascular e os fluidos tendem a sair para fora do espaço vascular por um processo de osmose. Este fenómeno sobrecarrega os vasos linfáticos, se os vasos linfáticos não conseguem lidar com o aumento de fluidos, estes extravazam para os tecidos formando o edema. 

Associadas às feridas no linfedema surgem muitas vezes complicações como:
Linforreia – saída de fluidos da ferida, liquido muito caústico e destrutivo . Causa destruição da pele e é um importante impedimento á cicatrização.
Infeção – é sempre uma ameaça aos pacientes com linfedema. Bactérias invasivas podem levar a infeções graves, celulite, linfanjite, eriserpelas e até sépsis ou gangrena.
Fibrose- tecido fibrótico simplesmente não cicatriza como o tecido normal.
Défice vascular – Nos estadíos mais graves do linfedema, o fluxo sanguíneo pode estar comprometido impedindo que os nutrientes e o oxigénio necessários cheguem á ferida

O grande desafio no tratamento destas feridas passa assim não por colocar qualquer penso que cubra a ferida mas sim no criar um ambiente favorável à sua cicatrização, não esquecer que sendo a causa mais frequente o edema linfático só diminuindo este edema conseguiremos cicatrizar as lesões.

Tratamento
O tratamento passa pela mobilização de fluidos do membro e da zona peri ferida permitindo a sua cicatrização, esta mobilização deve ser feita através da drenagem linfática manual e aplicação de compressão não elástica, sendo que na presença de lesões devemos optar pela aplicação de ligaduras de curta tração em detrimento das mangas e meias de malha plana. 

Na presença de infeção e de acordo com a severidade da mesma podemos aplicar apósitos com propriedades antimicrobianas como o iodo, mel, prata e polihexanida e necessitar de recorrer também á utilização de antibióticos sistémicos. Os pensos absorventes e não aderentes serão a primeira escolha no tratamento local de modo a promovermos o conforto e tolerância do doente á compressão.

Na presença de infeção é também muito importante o controle da dor seja por meios farmacológicos ou outros, bem como a suspensão da drenagem linfática manual.

após drenagem linfática e compressão

Prevenção


A prevenção é fundamental, os portadores de linfedema devem inspecionar diariamente a pele procurando pequenas lesões e dar especial atenção ás unhas e espaços interdigitais devido ao risco de infeções fúngicas que se podem alastrar a outras áreas da pele.

Também a pele seca deve ser tratada de modo a prevenir quebras e ou fissuras, devendo hidratar cuidadosamente a pele e prevenir a perda de água. Existem substâncias que evitam a saída de água, como a ureia e o ácido lácteo, de modo a manter o estrato córneo devemos usar concentrações acima dos 10%.

texto de: Rita Marques | enfermeira




Primeira reunião cientifica organizada pela ANDLinfa

Memória descritiva da 1ª reunião organizada pela ANDLinfa
Escrito por: Susana Rodrigues

Realizou-se no dia 19 de Janeiro, em Lisboa, a 1ª reunião organizada pela Associação Nacional dos Doentes Linfáticos (ANDLinfa).


Linfedema e lipedema, das necessidades do doente às novidades terapêuticas” foi o título do debate que contou com a presença de profissionais de saúde de várias vertentes, com o mesmo intuito de reforçar um dos principais objetivos da associação que é ter um papel ativo na melhoria da visibilidade das patologias linfáticas e das doenças que lhe estão associadas.




A abertura do debate coube ao Dr. José António Pereira Albino, cirurgião vascular, que apresentou o tema “A linfologia tem história em Portugal?”. Numa descrição cronológica do que tem sido feito no nosso país, fica-se a conhecer quais foram as principais personalidades intervenientes na área da saúde, momentos decisivos, conquistas e partilha de experiências.




A importância de estarmos juntos” esteve a cargo da palestrante e presidente da Associação, Manuela Lourenço Marques. A doença tem um rosto, não se pode dissociá-la da pessoa que a carrega, dos seus receios e expectativas. Alguns desses rostos foram apresentados, cada um com uma história de vida, mas unidos pela certeza de um diagnóstico que os acompanhará para toda a vida, o linfedema e o lipedema.




Seguiu-se uma mesa redonda sobre “Novos avanços no tratamento do linfedema e do lipedema” moderada pelos cirurgiões vasculares Dr. L. Mota Capitão e Dr. J. Pereira Albino.




Esta mesa redonda teve a participação do fisioterapeuta Nuno Duarte, que apresentou o tema “Tratamento do linfedema secundário, a realidade portuguesa”. Foi possível conhecer-se as particularidades patológicas mais relevantes que diariamente aparecem a quem lida com doentes linfáticos e, para estes especialistas, é preciso incrementar a qualidade e grau de conhecimento dos profissionais envolvidos no tratamento multidisciplinar desta doença.


A médica especialista em cirurgia reconstrutiva e microcirurgia, Dra. Ana Catarina Hadamitzky, residente na Alemanha, dedica há mais de uma década o seu trabalho ao tratamento cirúrgico de doenças do sistema linfático. Foi baseada na sua experiência que desenvolveu o tema “Perspetivas sobre o tratamento do lifedema e do lipedema no séc. XXI”. “O linfedema, assim como o lipedema são doenças sem uma terapia estabelecida; não há soluções universais, há sim diferentes cirurgias, quando necessárias, que dependem das causas, do grau de fibrose dos vasos e do estado clínico do doente”, citando a própria.




Durante toda a reunião esteve patente uma exposição de fotografias “Mulheres Guerreiras”, um projecto de Tracy Richardson e Adelaide Sousa, atriz e apresentadora. Falar do cancro, sem tabu, através da experiência de mulheres sobreviventes ao cancro da mama e de como a doença afetou as suas vidas é a linha condutora deste trabalho.





Com uma audiência que preenchia a totalidade da sala de conferências do Hotel Villa Rica, após sessão aberta de perguntas ao painel de comentadores, terminou assim a 1ª reunião cientifica organizada pela Associação Nacional dos Doentes Linfáticos (ANDLinfa).



Parabéns à Associação pelo contributo que está a desenvolver em prol da consciencialização desta problemática, que vai certamente lançar novos desafios, quer aos profissionais das áreas clínicas, quer à sociedade civil em geral.

Esperamos que nos próximos eventos desta natureza, possam também ser abordadas outras dimensões relacionadas com o Linfedema e Lipedema, nomeadamente questões associadas a limitações físicas que advêm da doença, as suas repercussões no contexto profissional, protecção social e necessário enquadramento legal.

evento noticiado: