L de Amor | Maria João e Karim |
Ser portador de linfedema não é sinónimo de viver sozinho, de
deixarmos para trás a nossa realização afetiva e emocional. O linfedema tem um
grande impacto na forma como lidamos connosco próprios, com o nosso corpo, com o
medo de sermos rejeitados, com a autoestima. Quantas vezes o pensamento que nos
assalta é: “Se eu não gosto de mim, do que vejo; quem vai gostar mim, assim?”
Mas há mais vida para além do linfedema, é possível amarmos e
sermos amados, é possível alguém gostar de nós, pois todos temos diferenças e é
nesse encontro de diferenças e de limitações que cada ser humano possui que o
amor nasce e se constrói. A felicidade e a completude afetiva, emocional e íntima
não é uma porta fechada para todos aqueles que são portadores de linfedema, no
encontro e na aceitação com/do Outro é uma forma de nos aceitarmos, de
sentirmos que somos iguais a todos os outros, de aprendermos a gostar de nós
mesmos, de darmos o que há de melhor em nós ao Outro, é uma aprendizagem, um
caminho de aceitação e de partilha.
É natural, que neste percurso poderemos ter algumas
desilusões, pois não é qualquer pessoa que possui maturidade emocional para ver
para além do corpo, da beleza física (numa sociedade que estigmatiza a
diferença), mas nós somos muito mais que corpo, somos seres físicos e
espirituais. Quem quiser partilhar a vida connosco, fá-lo-á, independentemente
da nossa condição física. O amor, a amizade, o companheirismo supera tudo isso.
O meu linfedema surgiu na minha adolescência, idade terrível
para uma rapariga em que o seu aspeto físico é bastante importante. Apesar de
não ser muito acentuado, incomodava-me, escondia-o; no entanto, nunca foi um
entrave para a minha vida afetiva, embora me comparasse constantemente com as
outras raparigas da minha idade. Após a gravidez, piorei muito, as infeções
eram recorrentes, o peso aumentou bastante, a perna triplicou; como é óbvio,
isso afetou o meu relacionamento, embora nunca tenha falado disso, eu sentia
isso … sentia de tal forma que a minha maneira de lidar com a situação foi
acomodar-me, deixar de cuidar da minha saúde e de mim mesma. Achava que mais
ninguém iria gostar de mim assim, sentia-me um “monstro”… Até que um dia,
decidi tomar as rédeas da minha vida e tentar ser feliz … e parti para uma nova
fase e ai percebi que o meu linfedema não
era obstáculo nenhum, a grande barreira estava na minha mente!
Conheci o meu atual companheiro há cinco anos, lembrou-me
quando fomos apresentados que fiz questão de dizer que tinha uma doença crónica
e que o meu membro inferior esquerdo era o triplo do direito, a que me
respondeu: “E eu tenho os pulsos magros, qual é o problema?” Temos feito um
percurso juntos, ele tem sido o meu pilar na aceitação de mim mesma, da minha
autoestima ter aumentado, motiva-me quando quero desistir, incita-me a procurar
soluções para melhorar a minha patologia e a minha qualidade de vida, cuida de
mim quando adoeço … é o meu pilar, aquela pessoa que sei que posso contar
sempre. O amor que temos vindo a construir, a amizade, a cumplicidade e a
partilha fez-me voltar a acreditar no Amor e na Felicidade, sabendo que mesmo
com Linfedema é possível amar e ser amado!
No plano da intimidade, cada um de nós, de acordo com o
membro edemaciado, vai fazendo o seu percurso com o (a) seu (sua)
companheiro(a), numa relação de conhecimento mútuo, de partilha de sentimentos,
de afetos, de medos para uma vivência plena (aconselho a leitura deste
apontamento: "Your Sex Life When You Have Lymphoedema"
Por tudo isto, com L
também se escreve Amor e Intimidade!
Parabéns Maria João, pelo Amor que tem a si própria!
ResponderEliminarSónia Marques
Obrigada, Sónia Marques pelas suas palavras! O meu estado de espírito atual , a positividade , o "olhar a vida de outra forma" foi um longo processo depois de ter entrado num túnel quase sem saída. Mas também devo muito à pessoa que tenho atualmente ao meu lado e que não me deixa desistir! Um beijinho!
ResponderEliminarMaria João Carapinha
Parabéns por esta fase da sua vida,mantenha sempre essa positividade e esse amor próprio!
ResponderEliminarBeijinhos
Obrigada, Marília! Este percurso não tem sido fácil, principalmente em Portugal onde existe muito preconceito perante as pessoas que possuem algum tipo de handicap ou são diferentes. Os olhares inquisitivos na rua, as conversas em que o adjetivo proferido é o da "coitadinha"; por isso, temos de fazer um trabalho interior, de construção de nós mesmas e seguir em frente ... lutar pelo que realmente importa, cuidar de nós mesmos e ter sempre, mas sempre objetivos na vida, independentemente da nossa condição física. E é isso que nos dá estímulo para viver ! Beijinhos! Maria João Carapinha
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