Rita sentou-se, até ontem, na minha mesa de refeições. Discreta, afável e tímida respondia polidamente sempre que interpelada, esforçado-se por se fazer entender numa língua que não dominava mas que não a impediu de partilhar a sua experiência de vida e o motivo de estar ali connosco: o seu linfedema, após carcinoma no colo do útero.
A descoberta do carcinoma levou-a, em 2001, a um intervenção cirúrgica, ao tratamento com químio e radioterapia.
Logo após a intervenção cirúrgica Rita apercebeu-se que a sua região abdominal e pernas começaram a ter um inchaço não habitual. E, rapidamente, apercebeu-se que muito em breve teria de lidar com um linfedema bilateral, nos membros inferiores, e na sua região abdominal. A ajuda dos técnicos de saúde aconteceu e logo começou na sua área de residência, a Alemanha. E, esta já era a quinta que vinha fazer este tratamento intensivo e totalmente direccionado.
Colocando as mãos como quem segura um harmónio, Rita explica que o linfedema de manhã está vazio mas, no final do dia, apesar de todos os cuidados, está cheio. E, fazendo o movimentos repetitivo de quem toca o harmónio, refere que é algo que com o que tem de lutar diariamente... "de manhã vazio... à noite cheio...de manhã vazio...à noite cheio", explica, compassadamente, com o movimento das suas mãos.
Quando chegou à mesa do pequeno almoço, naquela manhã, a Rita trazia um brilho diferente, que transparecia na sua sua face serena. Estava na hora de regressar a casa e tinha conseguido reduzir drasticamente o seu linfedema: menos dois litros em uma das pernas e mil e cem mililitros na outra! E, a sua região abdominal também estava com uma redução significativa. Tudo isto em quatro semanas... estava triunfante, a sua serenidade brilhava intensivamente. Quando a felicitámos, em uníssono, Rita sorriu calmamente. E, colocou a suas mãos, um vez mais, para tocar o harmónio... disse:
- "Que pena que não dure muito... de manhã vazio... à noite cheio... de manhã vazio... à noite cheio. É preciso trabalhar diariamente para o controlar, fazendo drenagem, usando compressão, enquanto estiver em casa. Mas tenho de fazer a minha vida e ele, apesar de todos os cuidados, vai ganhando terreno sendo imprescindível ter de aqui voltar" - acrescentou, esclarecendo com a sabedoria de quem tem esta doença crónica e lida com ela diariamente.
Agora, esta enfermeira precocemente, aposentada por causa do seu linfedema, não ia pensar na próxima vinda... tem outros pontos, da sua saúde, que tem de analisar e tratar: a continuação da drenagem e bandagem, na sua área de residência, é um deles mas o funcionamento do sistema linfático também lhe começa a afectar a área genital e isso é algo que irá começar com calma, enquanto trabalha outros receios que esta situação lhe começa a trazer.
À Frau Rita fica aqui o meu agradecimento por, espontaneamente, se disponibilizar a dar o seu testemunho, tranquilo e experiente, que decerto será inspirador para outras mulheres que estejam a fazer idêntico percurso.
março 2017
Muitos parabéns à Rita pelos progressos aí conseguidos e pela tranquilidade corajosa que inspira.
ResponderEliminarR. Pato
Obrigada pelo comentário, que será entregue a Rita
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