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Tenho 47 anos e linfedema na perna direita desde os 20. O
surgimento do linfedema foi um episódio da minha juventude que na altura nem
avaliei bem, até porque o problema surgiu primeiro mitigadamente e só depois
evoluiu. Na altura, mais do que preocupar-me com o incómodo ou as futuras consequências
físicas do problema, preocupava-me o facto de as pessoas me questionarem sobre
o aspeto que a minha perna tinha. Isto porque, inicialmente, não fiz qualquer
alteração na minha forma de vestir, usava aquilo que me apetecia, e portanto o
linfedema estava visível. Com o tempo deixei de usar saias. Inicialmente foi sobretudo
para não ser indelicada com as pessoas que me questionavam sobre uma coisa que
eu achava que apenas a mim dizia respeito mas depois tornou-se uma rotina que
se revelou importante na gestão do problema físico.
Entretanto tive e tenho três filhos maravilhosos (hoje dois
adultos e uma adolescente), os quais nasceram todos de parto natural (sem
qualquer anestesia pois não precisei) e que, felizmente, nada “herdaram”. Tenho
uma vida profissional que me permite viajar para perto e para longe com
frequência, o que me dá imenso prazer. E tenho suficientes âncoras de
felicidade na minha vida que me permitem, e sempre permitiram, viver com esta
patologia sem me sentir limitada.
Na verdade não posso dizer que o linfedema tenha feito uma
alteração enorme na minha vida. Acho que sou uma otimista, com tendência a ver
sempre “o copo meio cheio” e portanto, de facto, considero que esta situação
não teve impacto na minha vida familiar ou profissional.
É uma patologia incómoda?
Sim, mas
tenho para mim que em nome da nossa saúde mental o melhor é aprender a viver
com ela criando hábitos novos, adequados; no meu caso deixei de vestir saias,
apenas uso calças, mais largas que o habitual (o que por vezes é difícil de
conseguir comprar) e tomo de dois em dois meses injeções de penicilina para
prevenir infeções da perna. Mas claro que diferentes manifestações do linfedema
podem requerer outras adaptações.
Para mim,
conclui, passados 27 anos sobre o aparecimento desta condição, o importante é perceber,
com toda a certeza, que o linfedema não determina a minha vida e que há muita
coisa e muita gente à minha volta que me torna feliz. E nunca, mas nunca,
deixar de fazer o que me dá contentamento, porque a chave para o “insucesso” da doença é contrariá-la com objetivos e sem me
limitar.
O que digo apenas expressa a minha convicção de que um
linfedema, pelo menos num caso como o meu, não é um obstáculo, pois hoje com 47
anos continuo a achar, como quando tinha 20, que este é apenas um episódio da
minha vida, a qual tem felizmente muitos outros, e portanto o balanço que faço
não é de sofrimento mas sim de aprendizagem de uma “saudável convivência” entre
mim e o linfedema.
Ana d.