Feridas e Linfedema

De tempos a tempos temos feridas nas nossas pernas com linfedema.

Uma ferida é definida como qualquer lesão física envolvendo a quebra cutânea. Para os não portadores de linfedema as feridas são geralmente causadas por qualquer ação acidental mais do que por uma doença.

Nos portadores de linfedema contudo, as feridas são frequentemente consequência da sua patologia. Estas feridas podem ser bolhas que drenam, ulceras ou zonas onde simplesmente a pele abre.


Os fluidos que saiem pela pele irão muito rapidamente danificar a pele circundante e a ferida tornar-se-á num problema sério. Feridas não tratadas podem resultar em infeções e aumentar a severidade do linfedema, podendo causar sépsis, gangrena, amputação e morte.
Quando isto acontece devemos cuidar da ferida imediatamente. Estas precisam ser tratadas de modo diferente das feridas acidentais.

O tratamento de feridas nos pacientes com linfedema  é mais difícil e representa um maior desafio do que em pessoas sem linfedema.

Alguns problemas que podem surgir são:
Linforreia – saída de fluidos da ferida, liquido muito caustico e destrutivo . Causa destruição da pele e é um importante impedimento á cicatrização.
Infeção – é sempre uma ameaça aos pacientes com linfedema. Bactérias invasivas podem levar a infeções graves, celulite, linfanjite, eriserpelas e até sépsis ou gangrena.
Fibrose- tecido fibrótico simplesmente não cicatriza como o tecido normal.
Défice vascular – Nos estadios mais graves do linfedema, o fluxo sanguíneo pode estar comprometido impedindo que os nutrientes e o oxigénio necessários cheguem á ferida
Linforreia e fibrose

após compressão
Não querendo entrar em pormenores de fisiopatologia exagerados parece-me contudo muito importante salientar o mecanismo de criação e manutenção do edema linfático. 
A albumina é a proteína que circula no sistema vascular. Uma das funções da albumina é manter o fluido dentro do espaço vascular, isto é determinado pela quantidade de albumina no sangue. Quando o valor é muito baixo não temos proteínas suficientes em circulação no sistema vascular e os fluidos tendem a sair para fora do espaço vascular por um processo de osmose. Este fenómeno sobrecarrega os vasos linfáticos, se os vasos linfáticos não conseguem lidar com o aumento de fluidos, estes extravazam para os tecidos formando o edema. 

Associadas às feridas no linfedema surgem muitas vezes complicações como:
Linforreia – saída de fluidos da ferida, liquido muito caústico e destrutivo . Causa destruição da pele e é um importante impedimento á cicatrização.
Infeção – é sempre uma ameaça aos pacientes com linfedema. Bactérias invasivas podem levar a infeções graves, celulite, linfanjite, eriserpelas e até sépsis ou gangrena.
Fibrose- tecido fibrótico simplesmente não cicatriza como o tecido normal.
Défice vascular – Nos estadíos mais graves do linfedema, o fluxo sanguíneo pode estar comprometido impedindo que os nutrientes e o oxigénio necessários cheguem á ferida

O grande desafio no tratamento destas feridas passa assim não por colocar qualquer penso que cubra a ferida mas sim no criar um ambiente favorável à sua cicatrização, não esquecer que sendo a causa mais frequente o edema linfático só diminuindo este edema conseguiremos cicatrizar as lesões.

Tratamento
O tratamento passa pela mobilização de fluidos do membro e da zona peri ferida permitindo a sua cicatrização, esta mobilização deve ser feita através da drenagem linfática manual e aplicação de compressão não elástica, sendo que na presença de lesões devemos optar pela aplicação de ligaduras de curta tração em detrimento das mangas e meias de malha plana. 

Na presença de infeção e de acordo com a severidade da mesma podemos aplicar apósitos com propriedades antimicrobianas como o iodo, mel, prata e polihexanida e necessitar de recorrer também á utilização de antibióticos sistémicos. Os pensos absorventes e não aderentes serão a primeira escolha no tratamento local de modo a promovermos o conforto e tolerância do doente á compressão.

Na presença de infeção é também muito importante o controle da dor seja por meios farmacológicos ou outros, bem como a suspensão da drenagem linfática manual.

após drenagem linfática e compressão

Prevenção


A prevenção é fundamental, os portadores de linfedema devem inspecionar diariamente a pele procurando pequenas lesões e dar especial atenção ás unhas e espaços interdigitais devido ao risco de infeções fúngicas que se podem alastrar a outras áreas da pele.

Também a pele seca deve ser tratada de modo a prevenir quebras e ou fissuras, devendo hidratar cuidadosamente a pele e prevenir a perda de água. Existem substâncias que evitam a saída de água, como a ureia e o ácido lácteo, de modo a manter o estrato córneo devemos usar concentrações acima dos 10%.

texto de: Rita Marques | enfermeira




Primeira reunião cientifica organizada pela ANDLinfa

Memória descritiva da 1ª reunião organizada pela ANDLinfa
Escrito por: Susana Rodrigues

Realizou-se no dia 19 de Janeiro, em Lisboa, a 1ª reunião organizada pela Associação Nacional dos Doentes Linfáticos (ANDLinfa).


Linfedema e lipedema, das necessidades do doente às novidades terapêuticas” foi o título do debate que contou com a presença de profissionais de saúde de várias vertentes, com o mesmo intuito de reforçar um dos principais objetivos da associação que é ter um papel ativo na melhoria da visibilidade das patologias linfáticas e das doenças que lhe estão associadas.




A abertura do debate coube ao Dr. José António Pereira Albino, cirurgião vascular, que apresentou o tema “A linfologia tem história em Portugal?”. Numa descrição cronológica do que tem sido feito no nosso país, fica-se a conhecer quais foram as principais personalidades intervenientes na área da saúde, momentos decisivos, conquistas e partilha de experiências.




A importância de estarmos juntos” esteve a cargo da palestrante e presidente da Associação, Manuela Lourenço Marques. A doença tem um rosto, não se pode dissociá-la da pessoa que a carrega, dos seus receios e expectativas. Alguns desses rostos foram apresentados, cada um com uma história de vida, mas unidos pela certeza de um diagnóstico que os acompanhará para toda a vida, o linfedema e o lipedema.




Seguiu-se uma mesa redonda sobre “Novos avanços no tratamento do linfedema e do lipedema” moderada pelos cirurgiões vasculares Dr. L. Mota Capitão e Dr. J. Pereira Albino.




Esta mesa redonda teve a participação do fisioterapeuta Nuno Duarte, que apresentou o tema “Tratamento do linfedema secundário, a realidade portuguesa”. Foi possível conhecer-se as particularidades patológicas mais relevantes que diariamente aparecem a quem lida com doentes linfáticos e, para estes especialistas, é preciso incrementar a qualidade e grau de conhecimento dos profissionais envolvidos no tratamento multidisciplinar desta doença.


A médica especialista em cirurgia reconstrutiva e microcirurgia, Dra. Ana Catarina Hadamitzky, residente na Alemanha, dedica há mais de uma década o seu trabalho ao tratamento cirúrgico de doenças do sistema linfático. Foi baseada na sua experiência que desenvolveu o tema “Perspetivas sobre o tratamento do lifedema e do lipedema no séc. XXI”. “O linfedema, assim como o lipedema são doenças sem uma terapia estabelecida; não há soluções universais, há sim diferentes cirurgias, quando necessárias, que dependem das causas, do grau de fibrose dos vasos e do estado clínico do doente”, citando a própria.




Durante toda a reunião esteve patente uma exposição de fotografias “Mulheres Guerreiras”, um projecto de Tracy Richardson e Adelaide Sousa, atriz e apresentadora. Falar do cancro, sem tabu, através da experiência de mulheres sobreviventes ao cancro da mama e de como a doença afetou as suas vidas é a linha condutora deste trabalho.





Com uma audiência que preenchia a totalidade da sala de conferências do Hotel Villa Rica, após sessão aberta de perguntas ao painel de comentadores, terminou assim a 1ª reunião cientifica organizada pela Associação Nacional dos Doentes Linfáticos (ANDLinfa).



Parabéns à Associação pelo contributo que está a desenvolver em prol da consciencialização desta problemática, que vai certamente lançar novos desafios, quer aos profissionais das áreas clínicas, quer à sociedade civil em geral.

Esperamos que nos próximos eventos desta natureza, possam também ser abordadas outras dimensões relacionadas com o Linfedema e Lipedema, nomeadamente questões associadas a limitações físicas que advêm da doença, as suas repercussões no contexto profissional, protecção social e necessário enquadramento legal.

evento noticiado:

Eu, Susana


Eu,
Susana Mendes Santos

Tenho Linfedema na perna direita desde os 24 anos.
Com 18 anos foi-me retirado um lipoma junto da virilha da perna direita (sem saber foi-me cortado um vaso linfático).

Em Fevereiro de 2000 fui mãe. 
Em Outubro do mesmo ano, numa madrugada dou entrada no Hospital Curry Cabral com 40 graus de febre e com a perna direita muito vermelha. Passado 1 mês de internamento foi-me diagnosticado Erisipela (a 1ª de muitas).
O meu mundo começa a desabar …. uma doença que nunca tinha ouvido falar, uma perna que no espaço de um mês aumenta para o dobro do tamanho.

E agora …????
Procuro um médico em Lisboa que me diz a palavra LINFEDEMA pela 1ª vez (nunca tinha ouvido falar nem sabia tão pouco o que era), mas que me garante a cura ….. que me aconselha alguns tratamentos diários (caríssimos) numa clinica particular. Mas passaram-se dias e meses e a perna continuava a aumentar. O dinheiro começa a acabar e a esperança também. Senti-me enganada, senti-me sozinha e sem saber o porquê de me ter acontecido a mim.
Com o passar do tempo vêm as dificuldades. Comprar umas simples botas (não servem e se servem não se consegue fechar o fecho), comprar umas calças de ganga (só mesmo muito largas), ir à praia ou piscina e ter de aceitar os olhares indesejados. Os espelhos de corpo inteiro deixaram de fazer parte da decoração da minha casa.

Procuro um novo médico (a quem vou estar grata para sempre) Dr. Pereira Albino, e me dá um tão simples conselho: 
“…aprende a viver com o que tens, pois é crónico e não há cura …..”.
A minha pequenina esperança desaparece, o mundo desaba aos meus pés, durante dias e dias chorei. A realidade é tão difícil de se aceitar quando se tem uma vida pela frente. Quando se tem um filho pequeno (agora com 15 anos) e um casamento estável (agora com 20 anos).
A partir dessa data tentei adaptar-me à minha perna (já que “ela” não se quis adaptar a mim). Aprendi a viver com “ela” e a manobrar as pequenas divergências que me iam aparecendo.

Hoje com 40 anos, entendo o que tenho, mas continuo a não aceitar.

testemunho e texto de:
Susana Mendes Santos

A noticia no Just News - Linfedema e Lipedema



noticia pode se lida aqui

A inscrição é gratuita, podendo ser efetuada online aqui. O evento está aberto a todas as pessoas interessadas no tema, quer profissionais de saúde, quer o público em geral.