Lipedema - O que é e como se manifesta?

Julgo estarem ainda recordados do dia 28 de outubro!

No entanto, o Lipedema é cada vez mais um tema atual e, por isto, não hesitei em partilhar convosco o texto que a Fta Sara Rosado me remeteu sobre esta área. Esta fisioterapeuta, que exerce no Algarve, já tinha estado aqui a falar sobre: Linfedema e Treino Muscular e  Tratamento de Linfedema - alternativas terapêuticas.

Lipedema  - O que é e como se manifesta?

A maioria das pessoas nunca ouviu falar sobre lipedema, inclusive quem tem! Nesse sentido, decidi resumir alguma evidência científica com o objectivo de esclarecer sobre esta condição, dentro do que é possível.

imagem da internet
O lipedema é uma condição crónica que ocorre exclusivamente em mulheres e que se manifesta com a acumulação de gordura dolorosa e inchaço nos membros, à exceção das mãos e pés, sendo mais comum nos membros inferiores (Chill, Gordon, Sharpe, et al, 2010; Wold, Hines, Allen, 1951). É caracterizado por dor, sensibilidade/ fragilidade ao toque, hematomas fáceis, edema (inchaço) e por problemas psicossociais que afetam a qualidade de vida (Okhovat &, Alavi, 2014).

Ainda não se entende muito bem a biologia desta doença, o que resulta em opções de tratamento limitadas que, na melhor das hipóteses, melhoram os sintomas. 

Quem sofre com esta doença é muito afetado pela ausência de ferramentas de diagnóstico, pela fraca consciência médica e pública relativamente à doença e com o estigma associado ao excesso de peso. (Okhovat &, Alavi, 2014). Como resultado de todos estes fatores, o número de mulheres com lipedema ou a sua epidemiologia, não são conhecidos. (Okhovat &, Alavi, 2014).

A causa do desenvolvimento de lipedema é pouco clara, sabe-se que se desenvolve na puberdade (Fonder, Loveless & Lazarus., 2007) ou em outros períodos em que existam alterações hormonais, como a menopausa ou a gravidez (Herpertz, 1995), no entanto, a justificação não é clara.  

Muitos pacientes desenvolvem lipedema juntamente com obesidade, sendo considerada um fator contribuinte para o aparecimento e agravamento dos sintomas (Gregl, 1987). No entanto, as alterações a nível alimentar, o exercício físico e a cirurgia para perda de peso têm um efeito limitado no tratamento desta condição.

Relativamente ao diagnóstico, não existem ferramentas que o permitam realizar de forma clara e precisa, o diagnóstico é feito com base numa avaliação e discussão da história clínica, o que nem sempre é fácil e o torna um pouco subjectivo; sendo necessário conhecer as características específicas deste problema, sabendo o que o distingue do linfedema, obesidade e/ ou Insuficiência Venosa Crónica (Lontok, 2017).

No entanto, é importante referir que, num estadio mais avançado do lipedema, este pode ter também uma comprometimento linfático, denominando-se lipolinfedema (Lontok, 2017).

Algumas técnicas de imagiologia podem ajudar no diagnóstico diferencial, bem como, a ressonância magnética, tomografia computorizada , linfocintigrafia, entre outras; embora ainda não seja clara qual a melhor combinação de testes imagiológicos para o diagnóstico do lipedema. 

Normalmente, os diagnósticos que são estabelecidos de variam entre linfedema, obesidade ou insuficiência venosa crónica (Lontok, 2017).

Para constatar este facto, após 250 mulheres com lipedema, no Reino Unido, serem questionadas relativamente ao diagnóstico; apenas 9% reportaram que lhes foi diagnosticado lipedema após descreverem pela primeira vez os seus sintomas; a maioria revelou que foram feitos diagnósticos direcionados para o excesso de peso, a má alimentação e a falta de exercício físico (Lipoedema UK, 2014). 

Segundo o mesmo questionário, vários factores parecem ser afetados pelo lipedema, havendo números significativos de mulheres que revelam impacto ao nível da qualidade de vida (87%), auto-estima (86%), mobilidade (55%), vida social (60%) e sexual (50%), (Lipoedema UK, 2014). 

Outro sintoma muito frequente é a dor, com percentagens que variam entre os 60% e os 90% de pessoas que reportam este sintoma (Herbst, Mirkovskaya, Bharhagava et al; 2015)

Todos estes fatores nos remetem para uma condição que, embora desvalorizada e pouco abordada na comunidade médica, tem um grande impacto na vida das pessoas, não só a nível físico mas também a nível psicossocial. 

Relativamente ao tratamento do lipedema, existem algumas alternativas conservativas que ajudam no controlo dos sintomas. 

O exercício físico e uma nutrição adequada, devidamente prescritos, são duas estratégias associadas ao estilo de vida que parecem ter um forte impacto no controlo dos sintomas.

O exercício ajuda no controlo do peso, aumento da força muscular, fluxo sanguíneo e linfático e contribui para a saúde mental (Herbst, 2012; Williams & MacEwan, 2016; Halk & Damstra, 2016).

Por outro lado, o acompanhamento psicológico, em grupo ou individual, parece ser uma estratégia importante para promover a saúde mental e ajudar a lidar com alguns impactos a esse nível. (Lipoedema UK, 2014; Todd, 2010; Irwin, Scorniaenchi, Kerr, et al, 2012)

No que toca a estratégias de tratamento físico de edema, a evidência sugere a terapia compressiva, a drenagem linfática manual e a terapia descongestiva completa, como técnicas eficazes na redução de edema, através do aumento do fluxo linfático e da sua condução para os gânglios linfáticos (Lipoedema UK, 2014; Williams A. & MacEwan, 2016).

Por outro lado, existem algumas alternativas cirúrgicas que parecem ser eficazes no tratamento do linfedema, dependendo de uma série de factores que devem ser criteriosamente avaliados pelo médico para se fazer um aconselhamento e acompanhamento individualizado e de acordo com o contexto de cada indivíduo. 

Podemos então chegar à conclusão de que, embora esta seja uma condição com um forte impacto na qualidade de vida de quem a experiencia, padece ainda de uma desvalorização e desconhecimento por parte da comunidade médica. Assim sendo, é necessário “dar voz” a esta condição, conhecê-la, saber as suas particularidades, para assim se conseguir fazer um diagnóstico diferenciado e estabelecer um plano de tratamento adequado a cada caso e a cada pessoa. 

Creio que o caminho ainda é longo, mesmo no que toca a evidência científica, mas é extremamente necessário e essencial para esta população. 
Texto elaborado por: 
Fisioterapeuta Sara Rosado 
Certificado Internacional em Tratamento físico do Edema pela Escola de Drenagem Linfática de Bruxelas 

Principais referências bibliográficas:

Lontok. E., Briggs. L., Donlan. M., et al:, Lipedema: A Giving Smarter Guide. Lipedema Foudation. (2017) https://www.researchgate.net/publication/314134271

Okhovat, J. & Alavi, A., Lipedema: A Review of the Literature. International Journal of Lower Extremity Wounds (2014) DOI: 10.1177/1534734614554284
http://ijl.sagepub.com/content/early/2014/10/15/1534734614554284

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Muito obg por mais este excelente artigo.
      Quanto mais conhecimento a nível da população melhor a compreensão.

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  2. Excelente artigo, verdadeiramente esclarecedor de um problema tão pouco conhecido da sociedade em geral.

    Ricardo P.

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Manuela (L de linfa)