Linfedema | Lipedema – Regresso ao trabalho em tempo de COVID-19?


Com o regresso ao trabalho, e fim do estado de emergência, uma das questões que nos últimos dias mais me tem sido colocada é se os doentes com linfedema/lipedema podem ser englobados nos casos de risco da pandemia COVID-19.

Para responder a esta questão é necessário ter em conta que o linfedema e o lipedema englobam situações distintas onde existem vários subtipos sobretudo a nível do primeiro - o linfedema.

Vamos começar pelo lipedema.

De forma geral o lipedema, corresponde a um edema do tecido gordo dos membros inferiores bilateral e doloroso, normalmente hereditário que atinge sobretudo as mulheres. Os doentes podem ser magros a nível abdominal, mas têm um aumento significativo da gordura nas coxas e pernas podendo também ter atingimento dos  braços. Muitas vezes estes quadros são, infelizmente, ainda hoje, confundidos com obesidade, mas tal não corresponde à realidade.

Estas situações, e sobretudo nas formas em que não há limitações para o trabalho, (apesar dos quadros álgicos) estes doentes, não tem um risco acrescido em relação à população normal no que diz respeito à pandemia COVID 19.

No entanto, não sendo o lipedema uma doença de risco acrescido, não podemos ficar alheios ao facto de ser uma doença dolorosa e que nas formas mais avançadas limitam significativamente a movimentação tendo um envolvimento osteoarticular e linfático, sendo de considerar a hipótese de trabalho a partir de casa ou, inclusivo, podendo mesmo ser impeditivo de o fazer.

Em relação ao linfedema as situações são algo distintas.

Hoje em dia o linfedema primário deve ser encarado como uma malformação troncular do sistema linfático.

Por si, só se poderá tornar uma doença de risco, em fase de pandemia,  se houver complicações, nomeadamente  erisipelas de repetição, que não são mais do que infeções da pele, que atingem  tanto os braços como nas pernas e que são  normalmente originadas a partir de portas de entrada, a nível das mãos ou dos pés. Estas infeções são quadros graves, que podem evoluir para uma sepsis, pelo que estes doentes têm, depois da fase aguda, de se manter afastado de locais onde haja grande volume de pessoas, e manter as normas de distanciamento social recomendadas, pois a gravidade desta situação pode fazer com que, em caso de serem  atingidos neste surto  pandémico da COVID-19, o desfecho seja o desenvolvimento de uma forma muito mais grave de doença.. Contudo, estamos perante situações muito particulares pelo que a maioria dos doentes com linfedema primário poderá continuar a realizar as suas atividades sem qualquer restrição, porque  não há evidência de terem risco acrescido.

Como malformação linfática que é, o linfedema aparece muitas vezes associado a outras malformações, ou a outro tipo de complicações (fistulas linfáticas), mas este são casos particulares e que terão de ser avaliados individualmente.

Os linfedemas secundários são normalmente relacionados com cancro (mama, do foro ginecológico, linfomas ou alterações similares) ou com as complicações originadas pelos seus tratamentos, nomeadamente pela radioterapia. O risco destes quadros está acrescido á situação neoplásica e ao eventual tratamento desta, sendo um linfedema um complemento em termos de agravamento. Trata-se, pois, normalmente, de situações em que pela terapêutica ou pela própria doença em si, existe um risco acrescido de complicações em caso de envolvimento com o vírus, pelo que deverão ser avaliados como doentes de risco, na medida em que além da fase de transporte da sua linfa estar alterada também está a fase imunitária do sistema linfático.

Os  linfedemas secundários também podem estar associados a doença venosa (tanto a síndrome pós trombose venosa profunda como a varizes dos membros inferiores em fases avançadas). Na maioria dos casos estes, também não podem ser associados à existência de maior gravidade, em situações de pandemia, a menos que estejamos em situações avançadas de doença venosa nomeadamente com úlceras de perna ou úlceras cicatrizadas e envolvimento linfático.  Nestas circunstâncias também se aconselha a proteção dado que, nestas fases, o endotélio vascular encontra-se já por si numa fase de ativação e o contacto com o corona vírus, pode, em teoria, (ainda não há evidencia cientifica robusta)  levar ao despoletar de fases trombóticas da infeção com o SARS-Cov2, que correspondem aos estádios mais avançados.

Assim em conclusão, quem apresenta estas doenças e sobretudo em episódios não controladas, deve a nosso ver, recorrer ao seu médico assistente que caso a caso e conforme as situações avaliará se o doente tem ou não fatores de risco que impeçam a sua ida presencial ao trabalho.

J. Pereira Albino

links:
Grupos de Risco DGS
Guidelines for the Lymphatic Disease Community 

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Manuela (L de linfa)